Já há algum tempo que não escrevo para ti. Aqui estou eu, mais uma vez, para ti, para recordar o que foste e o que causaste em mim. Tenho saudades tuas. Tu já sabes disso. Mas eu faço-me repetir as vezes que forem necessárias. Só quero que voltes. Que voltes mais uma vez. Que dispenses a tua liberdade e o tempo que já perdeste para vires aqui ter comigo. Não me vês? Não me sentes? Continuo a olhar para ti, continuarei. Não tenho lições de vida e começo a aperceber-me que já não aguento. O tempo que demoro a perceber isso, já se passaram mil e umas coisas por mim e eu cada vez estou mais fraca. Não tive a oportunidade ou até mesmo a sorte de me sentar ao teu colo enquanto bebé perto da lareira, a ouvir as tuas histórias que, por muito que incompreensíveis na altura pois eu ainda era uma criança nova no mundo, hoje eu sei que iam de valer de alguma coisa. Porque eu não me ia esquecer. Eu lembrar-me-ia que todas as vitórias e derrotas que eu tivesse na minha vida teriam a ver contigo, pois todos os passos que eu desse seriam devidos a ti. Porque irias ser tu, a primeira pessoa em quem eu ia pensar antes de agir. Contudo, nada disso aconteceu. Nada. A morte do avô deu cabo de ti e foi aí em que paraste. Não havia volta a dar. Aconteceu, não se podia voltar atrás. E tu não conseguias andar para a frente e olhar de novo para a vida como olhavas quando ele estava do teu lado. A tua vida parou. Não tinhas mais sítios para percorrer e deixaste de ter a ideia de como o teu tempo era limitado. Os anos passavam, e tu pior. Cada vez pior. E nós não te podíamos ajudar. O mundo caiu na tua vida e tu caíste com ele. Foi logo aí que eu te perdi. Perdi-te para sempre. E, mesmo estando tu à minha frente, eu sabia que já não estavas lá. Já não eras a mulher que te tinhas tornado. Eu olhava para ti e tu para mim, mas eu sentia-te tão distante. Nunca ultrapassei a tua presença ausentada. E, ao fim de 2 anos 2 meses e 3 dias, ainda não aceitei a tua ausência ausentada para sempre. Nunca vou aceitar, porque nunca vou entender. Nunca vou ter a capacidade de perceber o que te aconteceu. Tu estavas lá e não estavas, e agora que não estás mesmo, eu sinto-te aqui. Estás aqui? Então não vás.