só que depois, o vento mudou de direcção e o medo voltou. No que diz respeito à meteorologia, nada está escrito previamente, não é? Como tudo na vida. Continuando a minha história (quase) não-perfeita. De seguida, apareceu o sol, e isso fez com que esquece-se o vento e aqueci a minha alma (fria). Parei um bocado - eu parei, não o tempo - e pensei porque razão tinha a ponta do nariz vermelha e sem sensação, se estava sol. Não cheguei a nenhuma conclusão. Continuei. Desta vez, com as mãos nos bolsos e a apertá-las, por causa do medo. Apertei com força. "Se calhar, se me virasse ao contrário, o vento ia estar favorável a mim e levava, outra vez, o medo." Sem efeito, alma quente, nariz vermelho, mãos no bolsos, muito medo. Tudo igual. Menos a minha trajectória. A agora já não estou a ir contra o vento e os meus cabelos já não voam. Quer dizer, voam, mas para a frente. O trajecto que eu levava não era relevante. Estava tudo igual ao que estava, no passado. Tenho as mãos frias, o coração já aquece e o batimento acelera. (alguém sabe o que se passa?) Os dias passavam, a rotina sempre a mesma, e o medo aumenta. Tenho o sol a bater-me na cara, os olhos serrados, sobrancelhas franzidas, passo acelerado. Estou a andar para trás no tempo, não está a ser nada fácil. "Recordar é viver", só que reviver a recordações é quase morrer. Ainda não me caiu nenhuma lágrima, estou a manter-me bem firme. Está nevoeiro, por isso não sei bem o que é aquilo lá ao fundo. Um pessoa, uma cabine telefónica, um mini-prédio? Ok, só pode ser uma pessoa. Nunca fui a uma cabine telefónica e nunca estive num mini-prédio, vá, gozem lá comigo. Só pode ser alguém que tenha marcado a minha vida. "Será? Não, não podes ser tu. És, és! Não pode ser. Anda e cala-te." Aproximei-me. "És mesmo tu." Não podia ser. Coração muito quente, batimento bastante acelerado. "Não saltes, não saltes, coração, não quero morrer já." Mantive a calma, foi difícil. O passado tem coisas mesmo boas. "Amo-te muito, sabias? Rever-te era o que mais queria. Ainda bem que estás aqui. Tinha saudades tuas. Não mudaste nada. Olha para ti, uma pessoa tão bonita. És mesmo importante." Abracei aquela pessoa. Senti-la de novo despertou-me tantas emoções. "Não acredito nisto." Que delírio. Estivemos a conversar. As horas passavam e nós ali. Olhava-te com atenção nos olhos e a cor deles motivava-me ainda mais. Não sei em quê, mas motivava-me.
- Como tens estado?
- Não sei bem. Vou aguentado-me com as poucas forças que me restam. E tu?
- O mesmo, mas diferente, tu percebes.
- Sim, já tive a tua idade. Sei o que é 'estar para morrer' por algo ou por alguém. Vou arriscar em alguém. E seja quem estiver aí no teu coração, está a mexer muito contigo, creio.
- És tu.
- Eu? Ainda não me esqueceste? Já se passaram dois anos.
- Com a tua idade, já devias saber que há coisas que o tempo não cura e pessoas ou momentos que nunca se esquecem.
E, de facto, eu tinha razão. Falámos muito, foi importante para mim. Reviver é bom, sabe bem. Mas convém ser o que aconteceu mesmo. Nunca tivemos esta conversa, mas não me arrependeria se a tivéssemos. Agora é impossível. Mas a minha imaginação não pára. Sim, avó, estou a falar de ti. O meu coração entregou-se a ti e tu estás lá para sempre. Amo-te. O tal medo que desde sempre me acompanhou era e é perder-te. Sim, continuas aqui.
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